Referência: 540247
Páginas: 196
Este livro de Luci Praun é um dos mais qualificados estudos da nova sociologia do trabalho, mostrando como a produção destrutiva que preside o mundo do capital é de fato uma fábrica de trabalhadores e trabalhadoras adoecidos.
Em sua densa pesquisa sobre o universo produtivo de uma grande transnacional do automóvel, sediada em São José dos Campos, a autora se propõe a mostrar como o seu cotidiano é pautado pela vigência da superexploração do trabalho, na qual os ritmos são contabilizados por minutos e mesmo por segundos. Tudo isso traz como corolário a explosão dos acidentes de trabalho, das lesões por esforço repetitivo, dos sofrimentos, daquilo que Gramsci denominou como nexo psicofísico, ou seja, aquele labor que destrói o corpo produtivo tanto em sua objetividade corpórea como em sua subjetividade que luta pela autenticidade. Ou, para recordar Danièle Linhart, temos uma desmedida empresarial que é responsável pelo afloramento da precariedade subjetiva.
E esse quadro se acentuou depois da nova fase da crise estrutural global que se desenvolveu a partir de 2008, na qual o trabalho regulamentado, herdeiro da era taylorista e fordista – preponderante ao longo do século XX – vem sendo velozmente substituído por uma nova precariedade, decorrência direta das nefastas formas de produção presentes na chamada empresa “enxuta, flexível, polivalente”, conforme o falacioso dicionário empresarial em que as palavras são de fato seu exato oposto.
Tudo vale, desde que seja para aumentar a produtividade das empresas: colaboradores, parceiros, envolvimento participativo, sustentabilidade, metas, etc. Palavras que se tornam pura mistificação quando se examina o chão de fábrica e o mundo da produção. O resultado: ampliação dos distintos modos de ser da precarização, das terceirizações, da informalidade, tudo isso potencializando ainda mais os acidentes, as mutilações, as mortes, gerando uma monumental sociedade dos adoecimentos do trabalho.
Além da destruição do corpo produtivo, em sua fisicidade, ampliam-se as diversas manifestações de sofrimento psíquico, assédio moral e suicídios no trabalho. Os ritmos frenéticos da produção, as recorrentes condições de insegurança no trabalho, as perversas competições intraclasse operária, tudo isso acaba por conformar uma vida cotidiana que é produtiva para o capital e destrutiva para a humanidade que vive do trabalho.
É por apresentar estes e outros tantos pontos relevantes que este belo livro já se encontra entre o que de melhor a sociologia crítica do trabalho (e da saúde) produziu nos últimos anos no Brasil.
Ricardo Antunes
Páginas: 196
ISBN: 978-85-65540-24-7
Luci Praun
Ricardo Antunes